domingo, 25 de dezembro de 2011

História de Santo Antônio do Jacinto/MG.


Primeiros Colonizadores

A região onde hoje se localiza o Município de Santo Antônio do Jacinto/MG., começa a ser colonizada, ainda de forma muito incipiente, no inicio do século XX, com a migração de pessoas vindas de cidades vizinhas como Almenara/MG, Pedra Azul/MG, Jequitinhonha/MG, e Rubim/MG, e de outras não tão vizinhas como Condeúba/BA, Tremedal dos Ferraz/BA, São João do Paraíso/MG, Araçuaí/MG, Salinas/MG, Medina/MG, Jussiape/BA, Ituaçu/BA, Jacaracy/BA (antiga Morro do Chapéu), Riu de Contas/BA, Rui Barbosa/BA, dentre outras.

A colonização foi lenta e gradual, os pioneiros entravam pelos rios, margeando os cursos d’água, para não se perderem na mata fechada (Mata atlântica), os riscos eram muitos como as febres palustres, maleita ou terçãs malignas, animais perigosos, cobras, jacarés, queixadas, onças, dentre outros, mas nada que tirasse o ânimo daqueles desbravadores.

Ha relatos, de moradores e de familiares, ainda não confirmados, que Cristiano Gil e João Batista de Oliveira "João Afogado", chegaram à região da Igrejinha/Cristianópolis e Córrego dos Afogados, respectivamente, por volta de 1917, dizem que João Afogado tomou posse do Córrego dos Afogados inteiro, da nascente até a foz no Rio do Peixe.

Os irmãos Clemente, Paulo, Olímpio e Gregório Sertanejo, vindos do município do Rubim/MG., desceram margeando o Rio do Peixe (Rio Buranhém), sentido nascente/foz, provavelmente no ano de 1919/21, pararam na confluência/encontro do Rio do Peixe com o Córrego do Timóteo, na região da cachoeira de Jiruzina, fizeram um Rancho, derrubaram a mata, lavraram roças de feijão, milho, mandioca, cana, etc., e depois, possivelmente dois anos depois, voltaram para buscar as famílias, quando já havia alguma condição de sobrevivência, alimentos e abrigo para todos familiares.

Há registro oral da vinda de Clemente Tavares de Oliveira, o "Clemente Trançador", que era sogro de Olímpio Sertanejo, não se sabe ao certo quem trouxe quem, se os sertanejos vieram com Clemente Tavares ou o contrário.

Clemente trançador era pai de Chico trançador, em uma das versões o Córrego do Trançador tem esse nome por conta do Clemente, que havia quebrado a perna em uma cachoeira no encontro dos Córregos do Trançador e Pau Ferro,  em outra versões, esse nome seria por conta do filho de Clemente, chico, que também era trançador.



O Distrito de São José do Buranhém


Após a vinda dos Sertanejos, outros colonizadores vieram logo em seguida e continuaram descendo as margens do Rio Buranhém, e logo em seguida, fundaram o arraial de São José do Buranhém, que pela Lei Estadual nº 2131, de 09-08-1928, é elevado à categoria de Distrito de São José do Buranhém e anexado ao município de Porto Seguro.

Pelo decreto estadual nº 11089, de 30-11-1938, o distrito de São José do Buranhém passou a denominar-se simplesmente Buranhém.
(Fonte: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/bahia/portoseguro.pdf).


A Fundação do Povoado de Santo Antônio

No ano de 1934/36, os Srs. Altino Trindade, Antônio José Ferreira, Teodoro Ferreira de Queirós, José Cascalho dos Santos, Clemente Rocha Bandeira e José Adrião Bandeira, resolveram fundar um povoado e adquiriram por dois contos de reis, na mão de Dona Melquídia, a área onde fundaram o povoado a que logo deram o nome de Santo Antônio, por ser santo de devoção dos fundadores.
(Fonte: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/ dtbs/minasgerais/santoantoniodojacinto.pdf 
e Forças Vivas de Santo Antônio, p. 20, publicação do autor Adalto Cabral da Silva).

A fertilidade das terras e a salubridade do clima atraíram novos moradores ao pequeno povoado, que pela Lei nº 336, de 27-12-1948, é elevado a Distrito, com o nome de Santo Antônio do Jacinto e Pela Lei estadual nº 2764, de 30-12-1962, é elevado à categoria de município.
(Fonte: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/ dtbs/minasgerais/santoantoniodojacinto.pdf).

A região onde está localizado o Município de Santo Antônio do Jacinto pertenceu politicamente aos municípios de Minas Novas, Arassuai, Jequitinhonha, Almenara e Jacinto, se não vejamos:

Elevado à categoria de vila com a denominação de Arassuaí, pelas leis provinciais ns 803, de 03-07-1857, 1612, de 19-12-1865 e 1673, de 20-09-1870, desmembrado de Minas Novas.

Elevado à categoria de vila com a denominação de São Miguel de Jequitinhonha, pela Lei estadual nº 556, de 30-08-1911, desmembrado de Arassuaí.

Elevado à categoria de município com a denominação de Vigia, pela lei estadual nº 58, de 12-01-1938, desmembrado de Jequitinhonha.

Elevado à categoria de município pela Lei estadual nº 2764, de 30-12-1962, desmembra do município de Jacinto.

(Fonte: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/minasgerais/aracuai.pdf).


Principais Famílias

Aguiar, Aguilar, Almeida, Alves, Amâncio, Amorim, Araújo, Azevedo, Bandeira, Batista, Barbosa, Brito, Borges, Cabral, Caires, Caldeira, Campos, Cardoso, Carvalho, Coelho, Correia, Costa, Cruz, Dias, Farias, Feitor, Ferraz, Ferreira, Fernandes, Figueiredo, Gameleira, Gil, Gonçalves, Gomes, Guimarães, Leão, Lima, Lopes, Luz, Neres, Nobre, Novais, Magalhães, Maranhão, Martins, Matos, Mendes, Miranda, Moreira, Oliveira, Pereira, Pinheiro, Pinto, Pires, Porto, Prates, Queiroz, Ramos, Rebouças, Ribeiro, Rodrigues, Rocha, Ruas, Sá, Santana, Santos, Silva, Soares, Sousa, Viana, Vieira, Xavier, dentre outras, quase todas de origem portuguesa, com poucas exceções como:

Aguilar, Capistrano, Gandra, Damasceno, Lacerda, Pardinho ou Pardini, Maciejewisky, Nepomuceno, Pedroso e Tintino. (Aguilar, Gandra, Lacerda e Pedroso são de origem espanhola; Capistrano, Procópio, Pardini e Tintino, são de origem italiana e Maciejewisky é russo de origem polonesa; Nepomuceno é de origem Tcheca, no entanto, algumas famílias no Brasil podem ter se originado pela homenagem a São João Nepomuceno, de origem Tcheca, natural de Nepomuk; Damasceno é de origem Síria/Damascus, aquele que vem de Damasco, ou todavia, de algumas famílias podem ter se originado da homenagem a São João Damasceno.

Se faltou a sua família é só informar que a gente adiciona.



ORIGEM DE ALGUMAS FAMILIAS – De onde vieram alguns dos primeiros habitantes.


Adelino Gonçalves dos Santos, natural de Rubim/MG, nascido aos 21/04/1921.
Aloísio de Lucena Ruas, natural de Pedra Azul/MG, nascido aos 29/08/1922.
Clemente da Rocha Bandeira, natural de Condeúba/BA, nascido aos 14/07/1914.
Germino Gil de Souza, natural de Itinga/MG, nascido aos 11/07/1918.
Gutemberg Ferraz Ramos, natural de Tremedal dos Ferraz/BA, nascido aos 26/03/1918.
Heleno Alexandre Ferreira, natural de Jaguaquara/BA, nascido em 22/10/1925.
Joaquim Cordeiro dos Santos, natural de Conquista/BA, nascido aos 10/01/1915.
José Pires de Souza, natural de Pedra Azul/MG.
José Pereira da Silva, “Zé de Azinho” natural de Almenara/MG, nascido aos 05/04/1919.
Júlia Matos de Souza, natural de Medina/MG, nasceu aos 02/07/1916.
Marcos Bispo de Oliveira, natural de São Bento/BA, nasceu aos 17/06/1911.
Manoel Rodrigues Santana, natural de Condeúba/BA, nasceu aos 06/10/1906.
Moisés Amâncio dos Santos, natural de São Fidelis/RJ, nasceu aos 29/09/1913.
Odilon Pinheiro de Azevedo, natural de Jequitinhonha/MG, nascido aos 04/05/1909.

(Fonte: Forças Vivas de Santo Antônio, p. 70 a 85, publicação do autor Adalto Cabral da Silva).


Origem de algumas famílias:


Pereira de Souza (Pezão), Bandeira, Silva (sertanejos), Batista da Rocha e Rodrigues Santana vieram de Condeúba/BA;
Ferraz Ramos, veio de Tremedal dos Ferraz;
Luz, de Jussiape/BA;
Cabral e Brito vieram de Ituaçu/BA;
Almeida Ruas, Caldeira e Pires vieram de Pedra Azul/MG;
Dias Cardoso, os "Rapa Cuia" vieram de Pingueira, comunidade de Cachoeira do Pajeú;
Araújo Nepomuceno veio de Rui Barbosa/BA;
Matos de Rio de Contas e Medina/MG;
Gil veio de Teófilo Otoni e Pampam atual Carlos Chagas;
Pinheiro de Azevedo, vinda de Jequitinhonha;
Alves (Zé Novo) Rio Pardo de Minas.


História de Algumas Famílias

Os Sertanejos (Família José da Silva), vieram da cidade baiana de Condeúba/BA, provavelmente no ano de 1904/6, vieram primeiro para as matas do Rubim de União, onde permaneceram por uns 15 anos, depois resolveram entrar mata a dentro, primeiro foram na direção de Palmópolis/MG, quando foram informados pelos poaieiros, caçadores de poaia (planta muito utilizada na indústria farmacêutica até os dias atuais), que as terras para os lados do Rio do Peixe eram melhores, mais caatingadas, mais parecidas com as terras do sertão, menos úmidas.

Só então é que eles desceram margeando o Rio do Peixe (Rio Buranhém), sentido nascente/foz, provavelmente no ano de 1919, primeiro vieram os homens, pararam na confluência do Rio do Peixe com o Córrego do Timóteo, derrubaram a mata, fizeram roças de feijão, milho e mandioca, e depois voltaram para buscar as famílias.

Para essa primeira incursão vieram apenas 04 filhos do patriarca José Joaquim, quais sejam: Clemente, Paulo, Olímpio e Gregório Sertanejo.

Há registro da vinda de Clemente Tavares de Oliveira, o "Clemente Trançador" pessoa que deu origem ao nome do Córrego do Trançador. Clemente Tavares de Oliveira era sogro de Olímpio Sertanejo, não se sabe ao certo quem trouxe quem, se os sertanejos vieram com Clemente Tavares ou o contrário, certo é que, Clemente sertanejo tirou uma posse no encontro do Córrego do Timóteo com o Rio do Peixe, e Clemente Tavares tirou uma posse no encontro dos Córregos do Trançador com o Pau Ferro, local em que o mesmo quebrou a perna, na cachoeira que se forma no encontro desses dois rios, dando assim o nome de Córrego do Trançador, Córrego que vem lá do Trançador ou Córrego em que o Trançador quebrou a perna.

Os demais posseiros tiram suas posses entres essas duas, Olímpio tirou sua posse na margem do Córrego do Trançador, abaixo da de Clemente Trançador, perto da pedra pontal; logo mais abaixo, nas margens do Trançador, Gregório Sertanejo, tirou sua posse; E entre a posse de Gregório e Clemente Sertanejo, Paulo Sertanejo Tirou sua posse, hoje entroncamento de Santo Antônio, Guaratinga, Monte Azul (cutia).
(Fonte: informações de familiares e moradores e Forças Vivas de Santo Antônio, p.17, publicação do autor Adalto Cabral da Silva).

A Família Maciejewisky, Russos de origem Polonesa, Pedro Maciejewisky (pai de João "Gringo") então com mais ou menos uns 15 anos de idade, mais duas irmãs, Ana e Maria Maciejewisky, fugiram da Polônia durante a primeira Grande Guerra Mundial, 1914-1917, escondidos no porão de um navio, que aportou em Belmonte/BA, onde o capitão da embarcação ordenou que os mesmos descessem.

Perdidos no Brasil, outra língua e outra cultura, Pedro Maciejewisky se desentendeu com suas irmãs mais velhas e subiu o Rio Jequitinhonha com alguns canoeiros, vindo parar no Vigia (atual Almenara/MG.), ponto final daqueles navegantes.  Logo começou a trabalhar com o senhor Basílio Medeiros Lima, o dono das canoas e seu futuro sogro, uma vez que, o mesmo se casa com Ermita, filha do senhor Basílio.

Morando primeiro na Conceição do Jacinto/MG., e posteriormente se mudando para o recém fundado povoado do São José do Buranhém por volta de 1925, tendo em vista que, Pedro Maciejewisky comprava couro de animais exóticos como, gato do mato e onças, para um alemão que morava em Almenara, denominado Fedor Prinz ou "Tiodoro Prince" como era conhecido por aqui, uma vez que, na Europa era moda usar casacos de peles naturais, o que atribuía muito valor a esses artigos e o Buranhém, naquele época, era o local adequado para se encontrar peles exóticas.
(Fonte: João Maciejewisky - "João Gringo").

Família Amorim, no livro de Grigó a Jericó, uma biografia de Valter Santos, o autor narra que ele, juntamente com seu pai, chegaram a região de Rubim/MG, no ano de 1926, vindo de uma região baiana chamada Grigó/BA, (não encontramos essa região de Grigó, mas sim de Guigós),  fundaram um comércio de portas abertas, uma venda, e como naquele tempo não existiam estradas, nem as transportadoras, eles mesmos é quem viajavam até Salvador e Recife para adquirir as mercadorias.

As viagens eram feitas da seguinte forma, pegavam uma tropa em Rubim e viajavam até Salto da Divisa/MG, onde deixavam a tropa e pegavam as canoas e desciam até Belmonte/BA., e lá pegavam os navios que faziam a navegação de cabotagem e se dirigiam até Salvador/BA ou Recife/PE.

Numa dessas viagens a Recife, na década de 1940, conheceram um jovem médico, recém-formado, era o Dr. Colimério Ferreira Amorim, ocasião em que convidou o mesmo para vir trabalhar em Santa Maria do Salto/MG., povoado recém-fundado. Dr. Colimério clinicou em Santa Maria por cerca de 10 anos, mudando-se em seguida para a cidade de Almenara/MG., onde veio a falecer muitos anos depois.

Depois da vinda do médico outros integrantes da família Amorim mudaram-se para a região.

Há titulo de curiosidade, em 1946 Valter Santos fundou a Fabricas de Manteiga Bakana, que posteriormente foi vendida, no ano de 1982, e se tornou o laticínio Renon.

Família Matos: Ivan Matos afirmava que seus ascendentes eram parentes diretos do Coronel Horácio Queiroz de Matos, o mais famoso da Chapada Diamantina, que descendiam de uma irmã do Coronel Horácio de Matos, e que por conta dos constantes conflitos em que o Coronel se envolvia a família acabou se dispersando, e parte veio para Medina, Almenara e depois para Santo Antônio do Jacinto, que José Matos e Dona Júlia Matos seriam sobrinhos do Coronel, filhos de uma de suas irmãs.

Descendendo ou não do Coronel Horácio de Matos, vale a pena conhecer a historia desse grande Caudilho Baiano de origem portuguesa, o Coronel Horácio é sobrinho do Coronel Clementino de Matos e neto do Alferes José Pereira de Matos, que veio de Minas Gerais, da região de Grão Mogol, Horácio ganha a patente de Coronel de presente do Coronel negro Francisco Dias Coelho:
http://www.youtube.com/watch?v=2eHcKdCYT2s

https://www.youtube.com/watch?v=8irzJys6ICM



Cultura e Tradições


DOS PORTUGUESES herdamos principalmente a Língua, a forma de sociedade agrária e patriarcal, a religião Cristã, predominantemente Católica, além de outras influências na música (a moda de viola), na arquitetura, na culinária como no queijo coalho, no requeijão em barra (requeijão de corte), na manteiga de garrafa.

Temos o reisado (festa do Santo Reis), o carnaval com máscaras e a cavalo, resquícios das ritualizações das Lutas entre Mouros e Cristãos, as festas juninas, a quadrilha (que é de origem francesa, trazida pelos portugueses), o presépio no natal, dentre outras.

DOS ÁRABES

No entanto, não podemos esquecer que a influência árabe ou moura, está presente na cultura portuguesa antes mesmo do descobrimento do Brasil, e se apresenta na culinária no uso de especiarias como: canela, açúcar, limão, laranja, figos, azeitonas, cuscuz, arroz-doce, chouriço mouro, no cultivo da cana de açúcar, algodão e laranjeira, o amor aos cavalos, no hábito de se comer com as mãos e se fazer o "capitão" bolo de feijão e farinha em formato de quibe, no habito de se usar alpercata (do árabe al-pargat), no uso de abadas e turbantes brancos, por negros nordestinos seriam de origem muçulmana, nos azulejos, pandeiro (adufe), tapetes, além de influências na arquitetura, na música e na linguagem.

Palavras de origem moura, temos mais de oitocentas vocábulos árabe, como: açafrão, açoite, açougue, açude, açúcar, alambique, alazão, alcateia, álcool, alecrim, alfafa, alforje, álgebra, algodão, alicate, almanaque, ALMENARA, almofada, almofariz, almôndega, alqueire, alvará, armazém, arroba, arroz, arsenal, auge, azar, garrafa, harém, nora, safra, surra, salada, xarope... dentre outras.

DOS AFRICANOS herdamos o sincretismo religioso, as benzedeiras que rezam de espinhela caída e quebranto, que são de forte influência umbandista, os temperos fortes utilizados na culinária, a feijoada, a boa cachaça de alambique, a canjica ou mungunzá com coco ralado ou amendoim (mistura de influências indígena e africana), o cuscuz com leite de coco - o cuscuz africano era feito com arroz, milheto ou trigo, a geleia de mocotó de boi, a música (o coco e o samba) e a dança.

Palavras de origem africana: angu, banguela, búzio, cachaça, cacimba, cafundó, cafuné, calombo, calundu, camundongo, canjica, chuchu, dendê, dengo, fubá, inhame, jiló, marimbondo, moleque, mugunzá, quiabo, quitute, samba, tanga, tutu... dentre outras.

Dentre as CONTRIBUIÇÕES INDÍGENAS podemos destacar o uso da mandioca na culinária, que vai desde a farinha de mandioca, aos biscoitos de polvilho, o beiju-de-goma ou tapioca, o pão de queijo, a carne de sol com aipim, o pirão e etc., o uso do milho na alimentação, a pamonha, o mingau e a pipoca, o uso de utensílios de barro, sextos trançados com cipó e palhas, balaios, redes para o descanso, o habito de tomar banho diariamente, dentre outros.

Palavras de origem indígena: abacaxi, açaí, aipim, amendoim, beiju, caatinga, caboclo, canguçu, capim, catuaba, cipó, coivara, copiar, cupim, guri, imbu, ingá, ipê, jacaré, jenipapo, mandioca, mingau, paca, pajé, peba, pequi, pipoca, piranha, pitanga, puba, siri, socó, sururu, tapioca, tatu... dentre outras.


Veja: Casa Grande e Senzala, Gilberto Freire.

Quem somos


De Onde Viemos?

Mas quem são esses primeiros moradores? E porque vieram para essa região? Para entendermos melhor os motivos que levaram à vinda desses primeiros moradores precisamos entender como se deu a colonização do Brasil, mais especificamente do centro sul da Bahia e note de Minas Gerais.

Os portugueses começaram a chegar ao Brasil em 1530 e até 1808, com a chegada da Família Real e consequente abertura dos portos, a imigração era limitada a portugueses e escravos de origem africana. No entanto, apesar de a entrada de estrangeiros no Brasil ser proibida pela legislação portuguesa, não impediu que chegassem espanhóis entre 1580 e 1640, quando as duas coroas estiveram únicas, judeus (originários sobretudo da península ibérica e Holanda), Ingleses, Franceses e Holandeses. Esporadicamente viajavam para o Brasil, cientistas, missionários, navegantes e piratas Ingleses, Italianos ou Alemães.
(FONTE: http://www.brasilescola.com/brasil/imigracao-no-brasil.htm).

Somente após a aprovação das leis do ventre livre, em 1871 e lei áurea, em 1888, que forçaram os fazendeiros a procurar outras fontes de mão de obra para suas lavouras, que a imigração para o Brasil aumentou e se diversificou.
(FONTE: http://www.rootsweb.ancestry.com/~brawgw/immigration.html).


Em 1534 Martim Afonso de Sousa introduz as primeiras mudas de cana e o gado no Brasil em 1534 na vila de São Vicente (hoje estado de São Paulo), e em 1586 já existia cerca de 70 engenhos em Pernambuco e Bahia.

Um dos primeiros núcleos de colonização estabelecido no médio São Francisco foi em Bom Jesus da Lapa, uma expedição vinda de Olinda, entre 1534 e 1550, chegou à região, atingindo Lapa. Anos depois outra expedição, de Salvador, aí esteve. Na metade do século, um grupo de 200 homens fundou ali um estabelecimento e numerosas fazendas de gado.     Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_S%C3%A3o_Francisco.

O Bandeirante Antônio Luiz Passos, vindo da Bahia estabelece uma fazenda de gado em 1698, na região onde hoje se localiza a região de Rio Pardo de Minas.


As Primeiras Expedições aos Campos dos Goitacazes

Com as primeiras expedições dos Bandeirantes paulistas Fernão Dias Paes Leme e Manoel Borba Gato, por volta de 1674, que passaram pelo centro e norte de Minas Gerais, na região de Sabará (sabarabuçu), explorando os vales dos rios das Velhas, das Mortes, Paraopeba, Araçuaí e Jequitinhonha, a região dos Campos dos Goitacazes, como era conhecida a região de Minas Gerais, começa a ser povoada pelos primeiros habitantes portugueses. 
(Fonte: http://www.sohistoria.com.br/biografias/fernaodias/).

Fernão Dias Paes Leme, Bandeirante paulista (1608-1681). Comandante da célebre bandeira das esmeraldas. No ano de 1.700, partindo da região de Caeté, a expedição de Antônio Soares Ferreira, descobriu as minas de ouro do Serro Frio, ás margens do pico do Itambé; fato esse que causou forte migração de pessoas vindas de Ouro Preto, do Carmo, Sabará, Caeté, da Bahia, pelo vale do Rio São Francisco e de Pernambuco, desceram todos para a região do Serro Frio em 1702. 
(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_Soares_Ferreira).

No ano de 1700, partindo da região de Caeté, a expedição de Antônio Soares Ferreira, descobriu as minas de ouro do Serro Frio, ás margens do pico do Itambé, fato que causou forte migração de pessoas vindas de Ouro Preto, do Carmo, Sabará, Caeté, da Bahia pelo vale do Rio São Francisco e de Pernambuco, dentre outros, desceram todos para a região do Serro Frio em 1702.

A Formação do Estado de Minas Gerais

Em 03 de novembro de 1709, como consequência da Guerra dos Emboabas (1707-1709), que demonstrou a fragilidade do controle da Coroa Portuguesa sobre a região das recém-descobertas minas de ouro (visto que o governador da Capitania de São Vicente residia na Capitania do Rio de Janeiro - esta (RJ) separada daquela (SV) em 1567), a antiga capitania de São Vicente foi transformada em Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, separada da do Rio de Janeiro. 
(Fonte: http://pt.wikipedia .org/wiki/Capitania_de_S%C3%A3o_Paulo_e_Minas_de_Ouro).

Em 1720, como consequência da Revolta de Vila Rica, materializou-se a autonomia administrativa das Minas, uma vez que, em 12 de setembro desse ano, D. João V desmembrou-a da Capitania de São Paulo, instituindo a Capitania das Minas Gerais e a Capitania de São Paulo.
A recém-criada Capitania de Minas Gerais, tendo como Capital Vila Rica, contava com 04 (quatro) Comarcas, eram elas:

·         Ouro Preto (com sede em Vila Rica);
·         Rio das Velhas (com sede em Sabará);
·         Rio das Mortes (com sede em São João Del-Rei); e
·         Serro do Frio (com sede em Vila do Príncipe).
(Fonte: http://www.asminasgerais.com.br/?item=CONTEUDO&codConteudoRaiz=38&codConteudoAtual=154).

Diamantina foi fundada como Arraial do Tejuco em 1713, com a construção de uma capela que homenageava o padroeiro Santo Antônio. A localidade teve forte crescimento quando da descoberta dos Diamantes em 1729. Em 1730 vira distrito diamantino.

O Distrito de Jacobina/BA., foi criado em 1720 e sendo elevado a categoria de vila em 24 de junho de 1722, devida a descoberta de ouro anos antes naquelas terras, o que sempre provoca grande migração de pessoas para aquela região.


No ano de 1783, após vencer definitivamente aos índios, no local da ultima batalha - João Gonçalves da Costa, um português - fundou o Arraial da Conquista, onde hoje esta a cidade de Vitória da Conquista, também fundou muitas outras cidades, como Condeúba e Poções.


No ano de 1783, após vencer definitivamente aos índios, no local da ultima batalha - João Gonçalves da Costa, um português nascido no ano de 1720, na cidade de Chaves, em Portugal -fundou o Arraial da Conquista, onde hoje esta a cidade de Vitória da Conquista, também fundou muitas outras cidades, como Condeúba e Poções. 
(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_ Gon%C3%A7alves_da_Costa).


Distrito criado com a denominação de São Miguel de Jequitinhonha, pela Lei provincial   nº 654, de 17-06-1853, e Lei estadual nº  2, de 14-09-1891, subordinado ao município de Arassuaí.

Distrito criado com a denominação de Salto Grande, pela lei provincial nº 1860, de 12- 10-1871, e lei estadual nº 2, de 14-09-1891, subordinado ao município de São Miguel de
Jequitinhonha.


Seca de 1990 e 1998-9 noventinha

No final do século XIX, a partir de 1890, uma seca de grandes proporções se abateu sobre parte da Bahia e Minas Gerais, conhecida como a seca de “noventinha”, que levou a migração em grandes levas de pessoas vindas de cidades como: Salinas, Espinosa e Taiobeiras, não sem antes passar em Comercinho do Bruno, onde escolhiam a direção a seguir, se das Gerais ou da Mata. (MORENO, 2001,149).


A Disputa Pelo Ouro das Minas Novas do Fanado

Com a descoberta de jazidas na região de Minas Novas, entre 1726 e 1728, o povoado de Minas Novas foi elevado à condição de vila no dia 02 de outubro de 1730, recebendo o nome Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso das Minas Novas da Contagem.

A Bahia, alegando estarem às glebas auríferas do sertão do Fanado, dentro das suas presumíveis divisas, reivindicou a sua posse em 1742, retendo-as administrativamente e ligando as mesmas a Comarca baiana de Jacobina, há mais ou menos duzentas léguas de distância.

Em 1757, conforme resolução do conselho ultramarino de 13 de maio daquele ano, a região do Fanado finalmente retorna ao governo mineiro assumir a administração civil, militar e judiciária, através da sua anexação; permanecendo eclesiasticamente subordinada à Bahia.

Segundo Cézar Moreno, a região do médio baixo Jequitinhonha, pertenceu aos termos do Rio Pardo e de Minas Novas. Permanecendo ligada ao primeiro (RP) até o ano de 1837, quando, pela Lei Provincial nº 59, de 06 de março de 1837, foi desmembrada a freguesia de São Miguel da sétima divisão, do termo do Rio Pardo, e incorporado ao de Minas Novas. (MORENO, 2001, 71).



A ocupação oficial da região de Salinas teria início por meio de alvará concedendo ao Capitão Inácio de Souza Ferreira grande extensão de terras (sesmaria) que vão do rio Vacaria ao rio Jequitinhonha em 1734, no século XVIII.

Presença Africana no Sertão

Escravos alforriados que se instalaram na margem direita do Rio de Contas Pequeno, atual Rio Brumado, foram os primeiros habitantes da região de Rio de Contas. Em pouco tempo, formou-se o povoado denominado "Pouso dos Crioulos", que em 1746, passou a chamar-se Vila Nova de Nossa Senhora do Livramento das Minas do Rio de Contas. (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_de_Contas).

Na segunda década do século XVIII, o Bandeirante Sebastião Pinheiro da Fonseca Raposo Tavares descobriu ouro no local, iniciando um ciclo que marcou a história da região, fazendo com que o povoado prosperasse rapidamente. Rico em ouro de aluvião, o município viveu na segunda metade do século XVIII uma época de grande prosperidade econômica. (fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_de_Contas).

Grande parte da população de Rio de Contas (vizinha de Jussiape) que havia fundado a cidade transferiu-se para Mucugê em busca de novas riquezas. A vila foi elevada à cidade em 1885.

Os escravos africanos trazidos ao Brasil pertenciam a um leque enorme de etnias e nações, a maior parte eram bantos, originários de Angola, Congo e Moçambique. Porém, em lugares como a Bahia, predominaram os escravos da região da Nigéria, Daomé e Costa da Mina, esses eram maiores e mais robustos que os bantos, e também mais desenvolvidos, alguns escravos islâmicos eram alfabetizados em árabe e já traziam para o Brasil uma rica bagagem cultural que Miscigenaram-se com os portugueses e índios, formando a raiz étnica do povo brasileiro.
(FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Demografia_do_ Brasil).

Um estudo genético realizado com pessoas de Belo Horizonte revelou que a ancestralidade dos belo-horizontinos é 66% europeia, 32% africana e 2% indígena. Por outro lado, na localidade de Marinhos, habitada principalmente por quilombolas, a ancestralidade é 59% africana, 37% europeia e 4% indígena (para aqueles cuja família vive na localidade desde o início do século XX, a ancestralidade africana sobe para 81%). De maneira geral, os mineiros apresentam muito baixo grau de ancestralidade indígena, enquanto a ancestralidade europeia (principalmente portuguesa) e africana predominam.
vejam também o blog: http://salinasmg.blogspot.com.br/

A Cultura Judaica no Sertão

Conta Augusto de Lima Júnior, em "A Capitania de Minas Gerais" que grande parte dos pioneiros portugueses que se instalaram nos povoados ao redor de Mariana e Ouro Preto eram cristãos-novos, e que muito dos costumes e expressões mineiras vem desses cristãos-novos, como a palavra hebraica "Uai" e o costume de sangrar todos os animais antes de cozinhá-los. Lembra Lima Júnior, também, que o antigo nome de Minas Novas, "fanado", significa "circuncisado". 
(FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Minas_Gerais).

Os portugueses já trouxeram para o Brasil séculos de integração genética e cultural de povos europeus, como os celtas e os lusitanos. Embora os portugueses sejam basicamente uma população europeia, 07 séculos de convivência com mouros do norte da África e com judeus deixaram um importante legado a este povo.

Um curioso estudo recente aponta que entre 25 e 30% dos primeiros colonos portugueses no Brasil eram, de fato, de origem judaica. (FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Demografia_do_Brasil).

Em 1492, os Reis Fernando e Isabel de Castela, conhecidos como Reis Católicos, decretaram a expulsão dos judeus da Espanha. Em razão disso, cerca de cento e vinte mil pessoas foram buscar refúgio em Portugal e, nessa mudança, levaram consigo sobrenomes árabes, hebraicos e espanhóis, além dos nomes de família representados por topônimos. (Fonte: http://www.saudades.org/ portugueorigem.html).

Em 1496, D. Manuel I decretou a expulsão dos judeus de Portugal, oferecendo, contudo, a oportunidade de permanecerem no país, mediante conversão ao catolicismo. Essa conversão, através do batismo, exigia nomes cristãos e, via de regra, o converso assumia nome e sobrenome tipicamente portugueses. Muitos mantinham, reservadamente, seus nomes originais, pois grande parte das conversões eram apenas de fachada, preservando a fé na lei mosaica na intimidade da família.
(Fonte: http://www.saudades.org/portugueorigem.html).

Analisando essas listas, nota-se que qualquer sobrenome português poderá ter sido, em algum tempo ou lugar, usado por um judeu ou cristão-novo. Não escaparam ao uso sobrenomes bem cristãos, tais como "dos Santos", "de Jesus", "Santiago", “Gonçalo”, “Dias”, “Leão”, “Fernandes”, “Pires”, “Martins” etc. Certos sobrenomes, porém, aparecem com maior frequência, tais como "Mendes", "Pinheiro", "Cardoso", "Paredes", "Costa", "Pereira", "Henriques", etc. O de maior incidência, no entanto, foi o "Rodrigues."
(Fonte: http://www.saudades.org/portugueorigem.html).











Segundo Caesar Sobreira, em seu livro Nordeste Semita, podemos listar algumas características da cultura nordestina e brasileira como de origem semita, tais como:

A endogamia, os casamentos consanguíneos, por questões religiosas.

O habito de se comer ou guardar na carteira alguns grãos de romã, na passagem do ano novo, visando a propiciar felicidade e prosperidade para o ano vindouro.

O habito de se construir mesas com gavetas, nas quais se escondiam as comidas preparadas conforme preceitos judaicos, no caso eventual de se chegar alguma visita inesperada, dentre outros.

Expressões como: "passar mel na minha boca", como quem diz, pensa que me engana, vem do habito judaico de passar mel na boca das crianças quando da circuncisão, para evitar que a criança chore.

Dar banho nos mortos.

Lenda da Verruga: como se sabe, o dia no judaísmo começa na véspera. Então, o “shabat” – descanso judaico no Sábado, começa na véspera com o nascimento da primeira estrela. Se um judeu apontasse para o céu quando visse a primeira estrela para anunciar o início da festa do Shabat, como cristão-novo ele estaria se denunciando. O adulto poderia se controlar, mas o que se diria para as crianças? “- Não aponta que se nasce verruga”. Era a única maneira de poder controlá-las, para que a família não fosse descoberta e perseguida pela Inquisição (MENDA, 2000).

http://anussim.org.br/algumas-familias-mineiras-tradicoes-e-costumes/




A Origem Étnica e Cultural do Povo Português

Estudos mostram que, cerca de 60%, em média, das linhagens genéticas em Portugal apresentam marcadores que as caracterizam como de origem paleolítica, há mais de dez mil anos (descendentes do Homem do Cro-Magnon), a população com a origem mais antiga de toda a Europa.

No entanto, a população portuguesa sofreu a influência de vários outros povos como por exemplo:

a) as invasões celtas por volta do século III, a.c.;
b) os germânicos, suevos, vândalos e visigodos, no início do século V, no âmbito da decadênciado Império Romano do Ocidente, invadiram a Península Ibérica;
c) os mouros, em 711 a Península Ibérica foi invadida por exércitos Islâmicos norte-africanos, tratava-se essencialmente de berberes com elementos árabes;
d) os judeus portugueses, subgrupo dos judeus sefarditas, eram uma presença antiga na Península, talvez remontando aos tempos romanos, claramente documentada desde 482 e fortemente atestada desde os tempos visigóticos;
e) e por fim, a presença de comunidades ciganas em Portugal remonta à segunda metade do século XV, originários remotamente da Índia e chegando ao território português por via continental europeia.

“De acordo com um recente estudo publicado no American Journal of Human Genetics, em dezembro de 2008, 20 por cento dos modernos Ibéricos (portugueses e espanhóis) são de origem judaica sefardita e 11 por cento de origem árabe e berbere”.

“Estas proporções atestam que ao invés da saída da Península Ibérica, ocorreu um alto nível de conversões religiosas (sejam voluntárias ou forçadas) das populações de mouros e judeus, em consequência de episódios de intolerância social e religiosa, resultando em última instância na assimilação dos descendentes de mouros e judeus ao grosso da população ibérica. Segundo os pesquisadores, os resultados sugerem que o componente genético judaico sefardita é o mais antigo, corroborando os registros históricos.

“O número de Ciganos em Portugal é de difícil quantificação. Segundo dados da Comissão Europeia contra o Racismo e Intolerância do Conselho da Europa seriam 50 a 60 mil espalhados por todo o país. Existem, no entanto, estimativas diferentes, ainda que parciais, como a da organização SOS Racismo, que num inquérito de 2001, junto de 186 Câmaras Municipais, contabilizou somente um total 21 831 indivíduos de etnia cigana”.
(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Portugueses).

Vejam também o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=skYbYpgEV9g



A Presença Indígena do Vale do Jequitinhonha


Influenciado pelo Conde de Linhares, que tinha como interesse particular o controle da navegação dos rios da região, e por achar que o Rio Jequitinhonha era um Rio diamantífero, a Coroa Portuguesa, no intuito de garantir para si o direito sob as riquezas, manda guarnecê-lo contra os possíveis contrabandistas.

Em 1811, o Alferes Gaúcho Julião Fernandes Leão, comandando a Sétima Divisão Militar, abriu caminho na mata, partindo da região de Araçuaí, inicia a marcha para as matas do Jequitinhonha.

“O Comandante chegou à região acompanhado de sessenta soldados e alguns índios (Maxacali) destribalizados, quem tinham a função de interprete ou línguas para os primeiros contatos com os índios da mata.” Além de carpinteiros, ferreiros, pedreiros, as mulheres dos soldados e algumas prostitutas encontradas nos povoados onde passavam. (MORENO, 2001, 65).

Os quarteis foram construídos principalmente em locais de cachoeiras, onde a navegação era impedida e aconteciam os principais ataques dos índios. Para tanto, foram criadas as fortificações militares de São Miguel (atual Jequitinhonha), São João do Vigia – em 1811 (atual Almenara), do Salto Grande – em 1813 (atual Salto da Divisa) e da Água Branca (atual Joaíma).

“O primeiro contato de Julião Fernandes com os Boruns (índios Botocudos que habitavam a região) só aconteceu depois de onze meses da sua chegada à região, eles apareceram em grande número, todos nus e armados de arco e flechas, do outro lado do Rio. A partir desse encontro, as relações entre eles foram se estreitando, e os índios acabaram sendo adaptados às maneiras dos brancos, e, aos poucos sendo destribalizados”. (MORENO, 2001, 87).

O forte de São Miguel, fundado em 29 de setembro de 1811, possuía em 1890, uma população de 4.060 habitantes.

“Em 1831, a lei que acaba com a guerra, coloca o índio como órfão, e, em 1834, ele foi colocado como tutelado”. (MORENO, 2001, 113).

OS INDIOS BORUN

Segundo Cézar Moreno, “O termo Botocudo é genérico, tem conotação pejorativa e discriminatória, um apelido ofensivo, dado aos Aimorés pelos portugueses, por conta dos enfeites, redondos de madeira que esses índios usavam para adornar os lábios e orelhas, chamados por eles de “imatós”, que se assemelhavam ás rolhas portuguesas.” (MORENO, 2001, 79).

Os Botocudos se autodenominavam Borun, que significa homem verdadeiro, “os Boruns tinham uma estatura média, eram morenos, de cor bronzeada, e raspavam as sobrancelhas e os cabelos ao redor da cabeça, deixando, no alto, uma espécie de penacho. Pintavam o corpo de preto e vermelho, com tintas extraídas das plantas da mata: urucum (vermelho e amarelo), jenipapo (cor negra), e capixaba (cor violeta). Quando os portugueses os viram pela primeira vez no meio da mata, os chamaram de demônios negros.” (MORENO, 2001, 81). Acredita-se que os Buruns pintavam o corpo para afugentar os mosquitos, já que a floresta era cheia deles.

Wied descreveu assim os Boruns: “tem bela composição, sendo mais belos que os das outras tribos. Estatura mediana, sendo alguns de grande porte, são fortes, largos de peito, espadaúdos, mas sempre bem proporcionados. Maçãs de rosto grande. Lábios e nariz de ordinários grossos; olhos na sua maioria pequenos. A cor é bruno avermelhada, havendo indivíduos bastante claros. Os cabelos são fortes, pretos como carvão, duros e lisos”. (MORENO, 2001, 83).

Gandavo descreve assim os Botocudos: “esses aimorés sam mais alvos e de maior estatura que os outros índios da terra (...). Vivem todos entre o mato como brutos animaes, sem terem povoações, nem casas em que se recolham”. (MORENO, 2001, 84).

Existiam também outras nações indígenas dentro da mata, porém, eram menores e viviam em constante guerra com os Boruns. Entre elas, destacam-se os Macuni, Maxacali e Panhame. Ainda hoje os índios Maxacalis habitam a região, aldeados na cidade de Bertópolis e Santa Helena de Minas.

FONTE: A “Guerra Justa” Contra os Índios – César Moreno (Canoa das Letras) O Vale e a Vida – História do Jequitinhonha, 2001.

O Bicho da Fortaleza, O Bicho da Carneira, o Bicho da Rodagem, o Lanudo



O Bicho da Fortaleza, O bicho da Carneira, O Bicho da Rodagem, O Lanudo


Um personagem histórico pode se tornar um mito. Mas uma pessoa de carne e osso pode virar assombração? Foi o que aconteceu com o mineiro Joaquim Antunes de Oliveira. Após sua morte, ele foi transformado pela imaginação popular no temível Bicho da Carneira.
Se há um monstro que aterroriza as crianças do Vale do Jequitinhonha e de boa parte das regiões vizinhas, em Minas e na Bahia, é o Bicho da Carneira, também chamado de Bicho da Fortaleza, Bicho de Pedra Azul, Bicho da Rodagem e Lanudo. Esse monstro da mitologia popular assume diferentes formas. A mais frequente é a de um cachorro preto e grande que aparece ao entardecer ou depois que a noite cai. Também é descrito como a figura de um lobisomem ou animal peludo desconhecido na nossa fauna – o Lanudo –, ou um homem sedutor, ou um personagem misterioso que traja capa escura e aparece nas noites sem lua, ou ainda como uma pessoa comum. O comportamento também varia: o que usa capa realiza operações mágicas e seduz mocinhas; o homem comum é reconhecido pelo apetite fabuloso e pela menção aos familiares; e o animal consome uma quantidade anormal de alimentos, abate bezerros, ataca cachorros, mata e deixa feridos, muitos de uma vez só. E as mães ameaçam as criancinhas com aparições desse monstro se não dormirem cedo.
Esse monstro foi um dia Joaquim Antunes de Oliveira, nascido em 1799, no norte de Minas Gerais, entre os rios São Francisco e Jequitinhonha. Teve três esposas, Francelina, Bernardina e Manoela, que lhe deram 15 filhos. Viveu na região de São José do Gorutuba, próximo à Janaúba de hoje, área então pertencente ao município de Grão Mogol. Dali se mudou, na década de 1860, para a nascente povoação de Catingas, e depois para Fortaleza, hoje Pedra Azul, onde faleceu no final do século XIX. O genealogista que registra o ano do seu nascimento, Valdivino Pereira Ferreira, também anota o ano em que morreu, 1876, mas sua assinatura ainda aparece em livros cartoriais da cidade de Jequitinhonha na década de 1880.
Existe uma explicação para a transformação de Joaquim Antunes em monstro: ele foi enterrado no pequeno cemitério de Catingas, que ficava na praça principal do povoado, e foi objeto de disputas políticas que determinaram seu deslocamento, já em 1919, para local mais afastado. Seus restos foram então transferidos para a nova sepultura, que misteriosamente rachou. Além disso, apareceram pelos de animal entre as fendas. A sepultura foi reparada, mas as rachaduras voltaram a surgir mais de uma vez, também misteriosamente. Na mesma época, na Fazenda Gameleira, onde Joaquim vivera, sumiu uma banda de porco. Estava criada a lenda.
Na área rural de Pedra Azul, muitos dos moradores mais velhos já viram o Bicho da Carneira. Em geral, não há interação: é um cão preto que passa ou um homem trajando capote. Mas existem narrativas em que o Bicho aparece criando situações inusitadas. Em Teófilo Otoni e Montes Claros, contam que um homem foi a uma pensão e pediu jantar para várias pessoas. Só que ele comeu toda a comida sozinho e pediu que mandasse a conta para seus parentes da família Antunes. Mas há quem diga que se trata de um golpe para tirar dinheiro de gente supersticiosa.
Já próximo a Estiva (distrito de Jequitinhonha), o “causo” foi diferente: um fazendeiro viu um cão devorando uma rês de madrugada. Em seguida, o animal tomou a forma de Joaquim Antunes, que ele conhecera em vida. Como o fazendeiro estava armado, a assombração não titubeou: perguntou se teria coragem de atirar nele.
Reza a lenda que o monstro assombra a própria família. Em Caraí, na véspera do casamento de um dos Antunes, ouviu-se um barulho vindo da despensa. Era um animal grande, e ninguém teve coragem de abrir a porta. Quando o barulho cessou, tiveram uma surpresa: os bois e porcos abatidos haviam sido devorados pelo Bicho.
Há outras versões sobre a formação do mito. Uns dizem que Joaquim era muito bonito e que fugiu com aquelas que depois vieram a ser suas esposas, e isso teria criado uma aura mágica em torno dele. Outros dizem que, nos últimos anos de vida, padeceu de uma doença tratada com mercúrio, e por isso seu quarto ficou impregnado de um cheiro muito forte, o que impediu que recebesse os mínimos cuidados: cabelos, barba e unhas deixaram de ser cortados, tornando sua aparência aterrorizante. Também conta-se que os pelos na rachadura do túmulo eram de animais entrando e saindo. Mas a história que mais se difundiu foi a de que batera em sua mãe, em quem colocou sela e montou. Ela o teria amaldiçoado com esse terrível destino no além-túmulo.
Outra hipótese, mais plausível, aponta para o fato de Joaquim Antunes pertencer a uma família ainda hoje consciente de suas origens hebraicas, a dos Antunes de Oliveira, que se internou nos sertões baianos ainda no século XVII para fugir da perseguição da Inquisição. Essa caçada à família Antunes teria sido motivada pela existência, entre os antepassados, de um cristão-novo de ascendência hebraica chamado Heitor Antunes. Nos anos de 1591 e 1592, quando o Brasil recebeu a visita do inquisidor Heitor de Mendonça, apurou-se que o finado Heitor Antunes, dono de engenho em Matoim, no Recôncavo Baiano, mantinha uma série de costumes judaizantes. Ele viera para o Brasil em 1558, falecendo em 1576. As investigações do inquisidor mostraram que chegou a instalar uma sinagoga no seu engenho, e que se dizia sacerdote do rito hebraico e descendente dos Macabeus, dinastia levita que lutou contra a dominação helênica em Israel (século II a.C.) e governou o país até pouco antes da era cristã.
Heitor Antunes havia falecido, mas isso não impediu que sua viúva, Ana Roiz, já bastante idosa, fosse levada para os calabouços do Santo Ofício, em Lisboa, onde morreu pouco tempo depois. Alguns dos filhos e netos de Heitor e Ana se mudaram para os sertões, onde a Inquisição era menos atuante, e dos sertões baianos, um ou mais ramos da família passaram à recém-criada capitania de Minas Gerais, ainda no século XVIII, estabelecendo-se na região de Lençóis do Rio Verde, hoje Espinosa, situada na bacia do São Francisco. Dali, alguns foram para a região de Itacambira e Grão Mogol, em busca de ouro e de diamantes, de onde a família se irradiou, ao longo do século XIX, para Piedade, hoje Turmalina, Itinga, Jequitinhonha e Pedra Azul, seguindo, já no século XX, para Medina, Joaíma, Almenara e Jordânia.
Nessa família, até meio século atrás, eram habituais a endogamia, o uso de homônimos e certo comportamento arredio, derivado do estigma de cristão-novo, características incomuns que contribuíram para o surgimento e a propagação da lenda. Os Antunes mais velhos repreendem os mais jovens quando fazem qualquer referência ao Bicho, mas isso não impediu que, em 1989, o músico Heitor de Pedra Azul e seu primo Edmundo Antunes de Almeida organizassem a festa “Antunes recebe Antunes”, que tinha o slogan “É isso aí, bicho!” e reuniu muitos descendentes de Joaquim Antunes. O evento deu ensejo ainda à publicação de um livro com informações sobre o Bicho da Carneira e sua árvore genealógica.
A popularidade desse monstro cresceu com o passar do tempo. Seu nome original, Bicho da Carneira, continua sendo o mais utilizado, mas, ao se difundir, o monstro passou a ser denominado Bicho da Fortaleza ou Bicho de Pedra Azul. O termo Lanudo é raramente empregado, e Bicho da Rodagem tem seu uso restrito a Almenara, onde ele surge na estrada que leva a Pedra Azul. Conta-se ainda que o Bicho não aparece em Itinga, apesar do grande número de parentes que tem ali, devido a uma procissão anual que circunda a cidade, criando um perímetro de proteção. O bairro do Porto Alegre, do outro lado do Rio Jequitinhonha, que foi recentemente unido ao restante da cidade por uma ponte, não conta com esse entorno e está, portanto, vulnerável às aparições do monstro.
As histórias em torno do Bicho de Pedra Azul demonstram que, apesar de o nosso tempo ser caracterizado pela racionalidade, o imaginário das populações continua criando mitos. Com isso, a tradição popular permanece em constante processo de criação e recriação, pelo menos no Vale do Jequitinhonha, região conhecida por sua notável vitalidade cultural.

Luís Carlos Mendes Santiagoé coautor de Pedra Azul – Cinco visões de uma cidade. Prefeitura Municipal de Pedra Azul: jornal Boca das Caatingas, 1996.

Saiba Mais - Bibliografia
GRINBERG, Keila (org.). Os judeus no Brasil – Inquisição, imigração e identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
NOVINSKY, Anita. Cristãos-novos na Bahia. São Paulo: Perspectiva, 1972.
SOBREIRA, Caesar. O nordeste semita – Ensaio sobre um certo nordeste que em Gilberto Freyre é também semita. São Paulo: Global, 2010.


Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/o-lobisomem-do-jequitinhonha